Depois de ver uma das minhas personagens mais queridas – Anne Eliot – ser mutilada, eviscerada e humilhada em uma adaptação grotesca e que me provocou náuseas (de verdade), meu espírito foi curado com uma nova adaptação, ao mesmo tempo belíssima e instigante.
Fui ontem ao cinema ver Emily e que grata surpresa, meu Deus! Confesso que fui com medo de ver algo raso e ridículo, mas não! Tudo nessa adaptação casou perfeitamente e o roteiro, que foi uma mescla maravilhosa de fato e ficção, engrandeceu e expandiu a alma de nossa amada Emily Brontë.
Isso sim é uma ADAPTAÇÃO.
Saí do cinema com os olhos vermelhos, não porque foi um dramalhão, mas porque me peguei querendo abraçar aquela alma aparentemente frágil, mas que por dentro parecia um vulcão de lavas borbulhantes pressionando sua constituição delicada para explodir. Peguei-me pensando também em mim mesma. O Morro dos Ventos Uivantes foi o primeiro clássico que eu li, acho que eu tinha uns dezessete anos, e gente... que experiência confusa e dolorosa foi aquela! Os anos se passaram, reli o livro, compreendi mais uma camada que aquela menina ingênua não havia compreendido e pretendo ler novamente para desvendar mais um andar daquele mundo sólido e caótico.
Além de nos apresentar uma Emily bem verossímil, o filme também é um deleite visual e sonoro. Aquela ambientação quase inóspita do norte da Inglaterra com suas charnecas enregeladas e cobertas por urzes e pedras frias nos levam a crer que Emily era uma mulher silenciosa, mas nunca pacífica. Sua mente sempre fervilhante era sua melhor amiga e sua pior inimiga. Peguei-me várias vezes me colocando no lugar dela: como é horrível ser um espírito livre e ser forçada a entrar no molde de outra pessoa. E foi assim que Emily viveu sua existência.
E o que posso dizer da trilha sonora? Só vem uma palavra à mente: maravilhosa. O filme tem uma pegada mais contemplativa e é a trilha sonora que nos conduz a vários lugares, inclusive para o mundo interior da Emily.
Nó no estômago, ansiedade, coração apertado, tensão e alívio... essas foram algumas das coisas que senti ao ver essa singela adaptação.
Tá vendo? não precisa de muito para me agradar. Não sou inimiga das adaptações, só tem uma coisa que eu exijo: respeito pelo leitor, pela obra e pelos personagens.
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